“A guerra na Ucrânia deve acabar”. Tão clara e contundente foi a mensagem transmitida pelo secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Rev. Prof. Dr. Jerry Pillayao Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo de Moscou. Fê-lo no decurso de uma reunião organizada recentemente com o objectivo de discutir a guerra e a posição da Igreja Ortodoxa Russa em relação a ela.
“O CMI deixou muito claro no seu Comité Central e também na sua recente assembleia, que, como CMI, devemos fazer todo o possível para lidar com esta guerra na Ucrânia”, explica Pillay numa entrevista exclusiva publicada no mesmo portal CMI. “Visitamos a Ucrânia e vimos as consequências do que está a acontecer às pessoas, a perda de vidas e de bens, e como esta guerra não tem sentido em termos do seu propósito e em termos da trágica perda de vidas humanaso que é realmente inaceitável”, ressalta.
O reitor da Faculdade de Teologia e Religião da Universidade de Pretória e nono secretário geral na história do CMI desde a sua fundação em 1948, comenta que outro foco de preocupação para esta comunidade internacional de igrejas é a questão da a unidade da família ortodoxa. “No CMI vimos claramente como a questão da guerra e as diferentes perspectivas começaram a afetar a unidade das igrejas ortodoxas e a gerar desafios para o movimento ecuménico mundial”, afirma. “É por isso – acrescenta – que a nossa tarefa é abordar estas questões específicas para tentar ver como podemos avançar”.
Durante o encontro com o Patriarca Ciril, segundo Pillay, foi também abordada a questão “do papel que as igrejas podem desempenhar para alcançar a unidade, enfrentar a questão da guerra e pôr fim ao que está a acontecer neste contexto”. Também foi considerada a possibilidade de criação de uma mesa redonda procurar fórmulas para que as diferentes igrejas possam avançar no caminho da unidade e através do diálogo com o objectivo final de acabar com a guerra na Ucrânia.
Por sua vez, Ciril, como afirma Pillay, celebrou o compromisso do CMI e sua missão em favor da paz. No entanto, o secretário-geral do CMI assegura que a reunião, que durou duas horas e meia, “não foi fácil”: “Enfrentámos situações e perspectivas complexas. Foi, portanto, uma conversa árdua, muito exigente e estimulante, mas que decorreu num espírito particularmente cordial que se gera entre povos cristãos que procuram compreender e discernir juntos os próximos passos”, sublinha.
Questionado sobre a polémica que causou a decisão de se reunir com o patriarca ortodoxo russo considerando a sua adesão a Vladimir Putin, Pillay está ciente de que nem todos concordam e diz respeitar os diferentes pontos de vista sobre esta questão. Contudo, ele comenta: “Quero expressar com toda clareza e firmeza que o CMI não pode se dar ao luxo de ficar sentado e não fazer nada. Há uma guerra em curso e devemos abordar a questão e trabalhar incansavelmente pela paz. Dado que a Igreja Ortodoxa Russa é membro do CMI, temos o direito e a obrigação de visitá-la, ouvi-la e, claro, até questionar a sua posição específica em relação à guerra”.