Os debates ‘Religião Digital’ encerram a temporada refletindo sobre os desafios do Velho Continente
A convicção de que A Europa tem de mudar, ficou claro por unanimidade nas intervenções dos oradores que esta última quinta-feira participaram num novo (e já septuagésimo) debate sobre as Quintas-feiras da Religião Digital. Um debate que, sendo o último antes das férias de verão, começou com um breve discurso do responsável das Instituições Religiosas do Banco Sabadell, Santiago José Portaspara corroborar que a instituição que representa apoia, para além das estruturas eclesiásticas que acolhe, os meios de comunicação que cobrem o que acontece na Igreja espanhola, “e, especialmente, o trabalho que oferece Religião Digital continuamente”, destacou.
Junto a este apoio e que dão regularmente a estes debates virtuais Católicos en Red i chamaesta nova hora de reflexão moderada pelo editor-chefe da Religión Digital, Jesús Bastante, teve vozes autorizadas a dar uma visão profunda daquilo que a Europa precisa em matéria de justiça social e de acção comum (e comunitária) para não perder o comboio do que foi a União Europeia nos seus primórdios.
Eles eram os de Francisco José Prieto, Arcebispo de Santiago de Compostela; de Natália Peirosecretário geral da Cáritas Espanhola, e da José Ramón Amordiretor acadêmico da Fundação Pau VI, com sede em Madrid e inserido na Rede Internacional de Centros Culturais Católicos desde 2019.
Partir de uma base em que não se entenderia ter um ADN europeu sem ter adquirido o conceito de justiça social oferecida pela cultura cristã, os contertulianos apresentaram suas posições a partir de uma radiografia geral: a de um Velho Continente que está “numa encruzilhada”. “A Europa parece cansada de si mesma e multipolar, e afastada de uma criatividade evangélica historicamente relevante”, assegurou Francisco José Prieto. Elevado ao episcopado em abril de 2021, o prelado galego ofereceu recomendações meridianas para aliviar os males: “A Europa terá que ter um papel ativo a partir de sua rica formação e de um ponto de referência moral e éticosem pretender retirar o adjetivo ‘cristão'”.
Integração, antídoto para a polarização
O respeito foi outro dos princípios que Natalia Peiro sublinhou, sobretudo quando o número de cidadãos em risco de cair na exclusão já tocam cem milhões no continente A especialista em cuidados a pessoas vulneráveis deu conta de provas que, para cada vez, é mais necessário abordar, a de quebrar “uma polarização entre duas posições, ou seja, a de querer mais união e a de querer, contra ele, mais nacionalismo”.
Diante deste cenário, a integração é para Peiro a pílula que deverá reduzir as tensões quando se trata de imigração: “Casos como o de a gestão da imigração interna dada pelas guerras (como o da Ucrânia) mostraram-nos que podemos ser bons exemplos de integração”, acrescentou.
Depois de apresentar uma visão histórica aguçada do conceito de “justiça social”, já presente na Igreja do século XIX e recolhida por todos os pontífices até aos dias de hoje, o debate serviu também para compreender que existe uma desconexão. “Uma desconexão com o compromisso com a própria sociedade”, como destacou José Ramón Amor, referindo-se aos políticos e intelectuais que têm o dever de casa a fazer. O problema, porém, pode ser maior se você seguir este caminho: “O conceito [de “justícia social”] está em perigo, e uma das causas são as posições extremistas que têm florescido ultimamente”, acrescentou posteriormente o analista.
Uma “voz profética” que diz onde estão “os verdadeiros problemas”
Por sua vez, e juntando-se ao movimento de outras vozes que questionaram esta deriva europeia, desde as recentes declarações dos bispos alemães até às do arcebispo italiano Matteo Zuppi, um dos eclesiásticos mais próximos do Papa Francisco, Prieto foi claro em todas as suas afirma: “Precisamos uma voz profética para nos dizer onde realmente residem os verdadeiros problemas, longe das desqualificações, pelo contrário, que ofuscaram tudo isto”, considerou, antes de pedir “mais exemplos de lucidez”. Algo que se consegue, segundo o prelado, regressando às raízes “sem pretender pensar que qualquer passado foi melhor”.
É assim que a linha tênue entre o modo de perpetrar a justiça social e a dialética política que foi dado à Europa pelos seus intervenientes também teve um lugar neste debate. “Para alcançarmos verdadeiras conquistas, temos que nos ouvir mais”, argumentou o representante da Caritas. “E acima de tudo faça-o com paciência”, respondeu.
Rumo a uma “ética da virtude”
Para José Ramón Amor, a Europa continuará a avançar, mas, para o fazer de forma adequada, o meio estará reconhecer uma “ética da virtude” capaz de conduzir as políticas de todos os países ao respeito comunitário. “Se não for assim, nem Deus pode consertar”, ironizou o representante de Paulo VI, centrando assim o debate no respeito que deve nascer de uma primeira pessoa do plural afirmada diante dos ventos que sopram.
O objetivo mais de curto prazo do que de longo prazo, para Amor, será o de não acabará por transformar a Europa num “conjunto de oásis sociais e políticos” que não sabem ver “além das suas fronteiras”. “Isto obriga-nos a lavar as mãos na lama da vida, como faz continuamente o Papa Francisco e como fizeram todos os líderes da Igreja Católica desde Leão XIII”, recordou Amor.
O futuro está nas mãos de valores que tenham genética cristã e “semente na fraternidade”, como já aludido nos últimos compassos do encontro digital. “Com Pedro e sob Pedro [lema recurrent en les conviccions històriques del catolicisme], é preciso seguir o princípio eclesiológico”, afirmou um dos participantes ao final. Só então será possível olhar com os olhos da doutrina sociall, o mesmo que emana da Igreja Católica no meio do que ainda resta da Europa.